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Empresas têm papel chave na saúde mental dos funcionários — e podem fazer parte da solução

10/04/2025

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A atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1) exige que as empresas avaliem os riscos psicossociais em seus ambientes de trabalho, colocando a pauta como uma das prioridades dentro de sua organização para evitar o adoecimento mental dos funcionários. A obrigatoriedade entrará em vigor no dia 26 de maio de 2025.

Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), os riscos psicossociais incluem metas excessivas, jornadas extensas, ausência de suporte, assédio moral, conflitos interpessoais e falta de autonomia no trabalho. Agora, caso seja necessário, os empregadores devem elaborar e implementar planos de ação, incluindo medidas preventivas e corretivas.

Especialistas consultados por PEGN explicam que são diversos fatores que podem provocar o adoecimento mental além do ambiente profissional. “Entender toda a responsabilidade da empresa na saúde mental do trabalhador pode ser subjetivo. É importante olhar o trabalhador como um todo — e isso inclui aspectos sociais. O próprio nome psicossocial abarca toda a qualidade de vida do funcionário, incluindo questões como moradia e condições sanitárias”, diz Ricardo Turenko, diretor de Relações Internacionais da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT).

Porém, ainda que não sejam totalmente causadoras do adoecimento mental, as empresas possuem um papel crucial na saúde mental do colaborador. “Talvez não seja apenas isso, mas um ambiente de trabalho com organização precária, com exigência excessiva que vá além da jornada padrão, pode contribuir para o crescimento expressivo de doenças psicossociais que já existem”, diz Antonio Sampaio, docente da área de Segurança do Trabalho do Senac São Paulo. “Sem o apoio das empresas e da liderança, o problema fica cada vez pior.”

O docente avalia a norma como positiva — e que ela tende a deixar questões de saúde mental do trabalho mais claras no ambiente corporativo. “As questões psicossociais sempre foram ignoradas do ponto de vista administrativo e essa norma gera um controle maior em questões que costumam ser negligenciadas”, diz o profissional, acrescentando que mapear essas questões de um ponto de vista técnico incentiva as empresas a mudarem suas condutas.

“É possível aplicar questionários anônimos e, a partir do resultado, identificar se existem exigências excessivas sem respeitar a carga de trabalho, relacionamentos conflituosos, assédio moral, discriminação, etc. Muitas vezes são situações vistas como ‘normais' no ambiente de trabalho, mas que ofendem.”

O professor reconhece que a questão pode ser mais delicada para pequenos negócios. “O empreendedor fica muito envolvido na operação e produtividade, sem conseguir se dedicar ao seu colaborador — que é o maior ativo do empreendimento”, diz.

Na visão de Flávia da Veiga, especialista na ciência da felicidade e fundadora da startup BeHappier, a obrigatoriedade da norma deve ser vista como uma oportunidade para as empresas de todos os portes e segmentos. “Pessoas mais felizes são mais produtivas, engajadas, colaborativas e resilientes. É um indivíduo que se apresenta ao mundo de forma mais eficaz, sendo mais inovador e faz melhores entregas”, diz. A especialista reconhece que é um desafio, mas afirma que implantar iniciativas de saúde mental tende a trazer resultados para os negócios.

“Não podemos esquecer que a saúde mental do empreendedor é igualmente importante e deve participar de todas as ações", diz. Não adianta cuidar da saúde mental dos funcionários e ele mesmo adoecer. Ele é o líder e deve ser o exemplo.”
Os especialistas dizem que o plano de ação exato depende dos riscos psicossociais de cada negócio, mas algumas estratégias já podem ser implementadas para se adequar à norma:

Levantar os riscos psicossociais do negócio e traçar um plano de prevenção e tratamento;
Criar canais de denúncia e escuta anônimos, garantindo um espaço seguro para que os funcionários possam relatar problemas sem medo de represálias;
Identificar falhas na operação que sobrecarregam os funcionários;
Incentivar a prática de exercícios físicos, em grupo ou individual, criando desafios em que as pessoas sejam estimuladas a se exercitar, com direito a premiações;
Estimular relações e momentos de conexão, por exemplo, uma “festinha” de comemoração para os aniversariantes do mês e rodas de conversa;
Promover palestras sobre uma vida mais saudável, incluindo hábitos alimentares e de sono;
Oferecer apoio psicológico e terapia aos colaboradores;
Sempre que necessário, buscar uma assistência técnica capacitada para lidar com questões de saúde mental;
Manter um arsenal de documentos que comprovem as medidas adotadas para cumprir a legislação.


Fonte: Pequenas Empresas & Grandes Negócios